sexta-feira, 6 de julho de 2012


Peso de juros sobre dívida brasileira 


Juros internos altos no Brasil aumentam o peso do serviço da dívida em relação ao PIB.
A proporção do PIB brasileiro gasta com pagamento de juros da dívida pública federal vem caindo nos últimos anos, mas ainda é a maior entre as 20 maiores economias do mundo e também supera a de países europeus afetados pela crise da dívida, à exceção da Grécia.
Segundo dados da Economist Intelligence Unit (EIU) sobre 25 países mais a União Europeia,  o serviço da dívida brasileira consumiu 5,1% do PIB do país no ano passado, proporção inferior apenas aos 5,47% do PIB gastos pela Grécia - país que na semana passada teve aprovado um segundo pacote bilionário de resgate para garantir o pagamento de suas dívidas.
Apesar de ter a segunda maior proporção de gastos com o serviço da dívida, o Brasil é apenas o 13º da lista quando considerada a proporção do endividamento total em relação ao PIB.
Segundo os dados da EIU, a dívida total brasileira correspondia a 59% do PIB do país ao final do ano passado, proporção bastante inferior a países como Japão (199%), Grécia (143%), Itália (119%), Irlanda (95,7%) e Portugal (93%).
“A alta proporção do PIB gasta com juros pode ser vista como um fator de vulnerabilidade da economia brasileira, mas nas atuais condições não são consideradas como um grande problema”.
“O Brasil está crescendo solidamente, tem um bom superávit primário e vem recebendo um grande fluxo de divisas por meio de investimentos estrangeiros diretos. Tudo isso ajuda a compensar a vulnerabilidade de pagar juros tão altos”, avalia.

Queda
A proporção do PIB brasileiro gasta com o serviço da dívida vem caindo nos últimos anos – depois de chegar a 8,54% em 2003, caiu para 5,1% no ano passado e, segundo as projeções da EIU, deve ficar em 4,9% neste ano e em 4,3% em 2015.
"O Brasil está crescendo solidamente, tem um bom superávit primário e vem recebendo um grande fluxo de divisas. Tudo isso compensa a vulnerabilidade de pagar juros tão altos”"
INesse período, segundo a organização, o total da dívida brasileira deve cair dos atuais 59% do PIB para 53,7% do PIB em 2015.
As projeções indicam que em 2015, após a reestruturação de sua dívida, a Grécia terá uma dívida equivalente a 76,1% do PIB e deverá gastar apenas 2,2% de seu PIB com o serviço de sua dívida, após um pico de 7,3% em 2012.
Outros países europeus, porém, devem verificar um grande aumento na proporção do PIB gasto com juros. A Itália deve chegar a 2015 gastando 6,1% de seu PIB com juros, Portugal deve gastar 6% e a Grã-Bretanha, que em 2010 gastou 2,95%, deve chegar a 4,6% em 2015.

O principal fator que eleva a proporção do PIB brasileiro gasta com o serviço da dívida é a alta taxa de juros básicos, já que a maior parte da dívida brasileira atual foi tomada no mercado interno.
A dívida externa, tomada em moeda estrangeira e a juros praticados no mercado de crédito internacional, representa menos de 5% do total da dívida pública brasileira, segundo os dados do Banco Central.

 Dívida externa
A posição estimada da dívida externa total em maio de 2012 totalizou US$298,2 bilhões, decréscimo de US$3 bilhões em relação ao estoque oficial de março. A dívida de longo prazo alcançou US$264,1 bilhões, redução de US$2,9 bilhões, enquanto a de curto prazo manteve-se praticamente estável, passando de US$34,2 bilhões para US$34,1 bilhões.

Dentre os principais fatores de variação da dívida externa de longo prazo, excluindo-se a variação por paridades, destacaram-se as captações líquidas de títulos emitidos pelo governo, US$732 milhões; e de títulos emitidos pelo setor não financeiro, US$862 milhões; e amortizações líquidas de empréstimos do setor não financeiro, US$1 bilhão, de empréstimos de bancos, US$983 milhões, e de títulos emitidos por bancos, US$781 milhões. A variação por paridades reduziu o estoque de longo prazo em US$2 bilhões.


Estados Unidos e Japão
Os dados compilados pela EIU mostram que o peso da dívida brasileira é muito maior para a economia do país do que as dívidas do Japão, país com a maior dívida relativa ao PIB do mundo, e que os Estados Unidos, que têm a maior dívida nominal.
O Japão, cuja dívida total já ultrapassa os 200% de seu PIB, gastou em 2010 apenas 1,43% de seu PIB com o serviço dessa dívida. Essa proporção deverá ser ainda menor em 2011, com uma projeção de gasto de 0,8% do PIB com os juros da dívida.
No caso dos Estados Unidos, que se veem envoltos na polêmica discussão sobre o aumento do limite para o endividamento do país, dos atuais US$ 14,3 trilhões, esse valor deverá representar neste ano 68,3% do PIB do país, e os gastos com juros deverão consumir 1,4% da produção anual de riquezas americana.

Pagamentos com juros da dívida (em % do PIB)

País 2010 2011 2015
Grécia 5,47% 6,50% 2,20%
Brasil 5,10% 4,90% 4,30%
Itália 4,53% 4,20% 6,10%
Turquia 4,37% 3,60% 3,40%
Irlanda 3,20% 3,20% 3,80%
Índia 3,20% 3,20% 2,10%
Portugal 3,04% 3,40% 6,00%
Grã-Bretanha 2,95% 2,80% 4,60%
União Europeia 2,60% 2,60% 3,90%
França 2,02% 2,20% 4,10%
Alemanha 2,00% 1,70% 2,50%
México 1,96% 1,30% 0,60%
África do Sul 1,90% 1,90% 2,40%
Espanha 1,60% 1,90% 3,30%
Argentina 1,53% 1,20% 3,00%
Estados Unidos 1,46% 1,40% 1,40%
Japão 1,43% 0,80% 1,30%
Indonésia 1,40% 1,40% 1,20%
Austrália 0,90% 0,90% 0,70%
Venezuela 0,80% 1,30% 5,90%
Canadá 0,60% 0,60% 3,00%
Rússia 0,60% 0,60% 0,40%
China 0,50% 0,40% 0,60%
Chile 0,28% 0,20% 0,20%
Coreia do Sul -1,30% -1,40% -0,90%
Arábia Saudita - - -
Fonte: Economist Intelligence Unit (EIU)

Dívida total (em % do PIB)

País 2010 2011 2015
Japão 198,96% 209,20% 214,00%
Grécia 142,65% 154,80% 76,10%
Itália 119,10% 119,80% 118,00%
Irlanda 95,70% 112,60% 85,80%
Portugal 93,00% 103,50% 124,20%
Canadá 84,00% 82,70% 76,70%
Alemanha 83,40% 81,40% 75,40%
União Europeia 82,50% 83,70% 82,10%
França 82,38% 85,00% 87,30%
Grã-Bretanha 76,07% 79,90% 91,90%
Estados Unidos 62,29% 68,30% 71,00%
Espanha 60,10% 66,70% 71,40%
Brasil 59,00% 57,40% 53,70%
Índia 50,70% 51,00% 45,80%
Argentina 45,14% 43,30% 46,40%
Turquia 42,83% 41,20% 32,90%
México 36,84% 37,40% 31,30%
África do Sul 32,30% 35,40% 42,10%
Indonésia 25,72% 24,60% 19,40%
Venezuela 24,90% 32,30% 43,40%
Austrália 24,40% 25,30% 20,20%
Coreia do Sul 22,60% 22,20% 20,70%
China 18,90% 19,10% 18,40%
Arábia Saudita 17,10% 10,80% 12,60%
Chile 9,20% 10,20% 7,40%
Rússia 9,00% 8,30% 12,40%

Dívida da Grécia


A dívida da Grécia atingirá 129% do PIB em

 2020.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que o nível de endividamento da Grécia atingirá 129% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020. 
Apesar disso, alguns sinais na semana passada indicaram que ainda há um desejo político suficiente na zona do euro para seguir adiante com um novo e mais ampliado pacote de ajuda financeira para o país. 
O FMI está propondo, quatro opções para os credores oficiais da Grécia com o objetivo de reduzir o nível de endividamento para 120% do PIB, o qual havia sido considerado como "sustentável" na mais recente análise de sustentabilidade da dívida feita em outubro do ano passado. 
Espera-se que os ministros decidam se o governo grego está apto para receber um segundo pacote de ajuda financeira no valor de 130 bilhões de euros que poderá evitar o país do default descontrolado da dívida soberana grega. (junho 2012)

Dívida da Grécia - Dez-2009


A dívida da Grécia ascende a 300 mil milhões de euros, a maior da história da Grécia moderna.
Entretanto, vários dirigentes europeus mostraram-se preocupados com esta situação. Segundo Philippos Sahinidis, vice-ministro das Finanças grego, a dívida da Grécia ascende a 300 mil milhões de euros, sendo o déficit mais elevado em 16 anos.
 A dívida pública da Grécia deve atingir 113 por cento do PIB no final do ano e 120 por cento em 2010. A Grécia foi sancionada esta semana pela amplitude do seu déficit orçamental pelas agências de notação.
A degradação das suas notas fez cair o euro e as bolsas europeias. Entretanto, a ministra dos Assuntos Europeus da Suécia, país que ocupa a presidência rotativa da União Europeia, afirmou que esta situação é muito grave. 
O primeiro-ministro finlandês, Matti Vanhanen, disse que tem confiança que a Irlanda e a Grécia, países que registaram um considerável aumento dos déficits e dívidas com a crise consigam manter a situação sob controle.
O mais importante é que tenhamos informação exacta sobre a situação da Grécia, acrescentou numa referência à falta de fiabilidade das estatísticas gregas. 


Conclusão

Quando se discute o caminho que os neoliberais chamam de “calote” e consideram o pior exemplo a ser seguido pela Grécia ou outros países nas mesmas dificuldades —, entra em cena o conceito de “dívida odiosa” (odious debt), introduzido no jargão econômico por Alexander Sack, em 1927. Segundo ele, o “calote” é legal e moralmente justo quando se preenchem três requisitos: 1) o governo de um país recebe empréstimo(s) sem o conhecimento e a aprovação do povo; 2) o dinheiro é gasto em atividades que não beneficiam o povo; e 3) os emprestadores têm conhecimento desta situação e fingem ignorá-la.
Mesmo sendo pouco mencionado pelos economistas, por razões óbvias, o conceito de “dívida odiosa” foi aplicado pela primeira vez pelos Estados Unidos. Quando venceu a guerra contra a Espanha e apossou-se de Cuba, os EUA herdaram as dívidas da ilha com a antiga metrópole. Diante da enormidade dos valores, pois a dívida vinha desde o Descobrimento da América, quatro séculos antes, os EUA a declararam “odiosa” e simplesmente não a pagaram.